quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Admirável mundo novo (Aldous Huxley)

Título: Admirável mundo novo
Autor: Aldous Huxley
Título original: Brave new world
Tradução: Vidal de Oliveira
Editora: Globo livros
Coleção: Globo de bolso
Ano: 2009
Páginas: 399






Admirável mundo novo é um clássico do gênero distopia. A distopia é o gênero responsável por criar um mundo oposto a utopia, nele vemos retratado um estado perfeito, onde impera a felicidade plena e a concórdia absoluta entre os membros da sociedade. Esse mundo "perfeito" é conseguido através de governos totalitários e poderes tirânicos. A distopia trata basicamente disso, de sociedades opressoras que se revestem do manto da igualdade para controlar os cidadãos.

Escrito em 1932, por Aldous Huxley, este livro permanece atual ainda nos dias de hoje, talvez agora faça até mais sentido do que no período em que foi concebido. Isso é o que mais me agrada nas poucas distopias que li, essa capacidade de ser atemporal e dialogar com as gerações futuras com clareza.

Em admirável mundo novo a sociedade que conhecemos deixou de existir. Ambientado em Londres, em aproximadamente 632 d.F. (depois de Ford), porque Deus deixou de existir para essa humanidade, as relações afetivas simplesmente foram abolidas em nome da paz e harmonia mundial. Henry Ford foi um dos precursores da administração clássica, ele revolucionou os transportes ao desenvolver o modelo "T", um carro padronizado, produzido a baixos custos e em larga escala. Ele foi o pioneiro do "capitalismo do bem-estar social". Neste novo mundo o referencial supremo da população é Ford, ele é o novo "Deus". Quem comanda a ordem mundial é chamada de Sua Fordeza (altamente bizarro). 

Toda forma de religião, arte ou cultura, principalmente gratuita, foram extintas. Nesta sociedade as pessoas não são livres para criarem suas concepções de mundo, elas não são livres em nenhuma hipótese. Para supostamente pacificar, a sociedade resolveu padronizar também a população, o modelo de produção de Ford, virou o modelo de produção dos seres humanos também. Não existe mais famílias, doenças, velhice ou liberdade de pensamento. As pessoas são criadas em laboratórios e condicionadas antes mesmo de nascer a pertencerem e agirem da forma correspondente a sua casta. Para estimular esse condicionamento, é sempre recomendado o uso do soma, uma droga sintética criada para proporcionar um certo torpor as pessoas e afastá-las de qualquer questionamento ou conflito.

Bernard, um dos personagens apresentados, insatisfeito com a sua vida, viaja para uma reserva selvagem e lá conhece John, um jovem que nasceu de uma mulher condicionada. A partir daí vemos um desfecho se desenhar. Para saber mais, só lendo a história.

Eu não sei o que Huxley tinha em mente ao criar esta obra, mas eu vejo um livro altamente irônico e satírico. É uma crítica ferrenha ao capitalismo. Huxley criou uma sociedade contrária a tudo que fosse prazeroso, gratuito ou velho. Vemos as pessoas serem condicionadas ao belo, ao moderno, aos gastos, porque assim supostamente elas viveriam harmoniosamente. Desde aquela época nós já podíamos enxergar a famosa política "do pão e circo", que permanece até hoje arraigada em nossa cultura. O autor questiona se o conceito que nós temos de civilização seria o correto. É um livro que estimula bastante nosso senso analítico.

É bastante irônica a escolha de Ford para o posto de divindade, uma vez que ele era um cristão episcopal. O próprio autor passou a dar bastante importância a evolução espiritual em suas obras futuras. Vemos o tom de crítica a sociedades altamente anarquistas. A falta de fé não tornou as pessoas felizes e livres, muito pelo contrário.

Não é uma obra de leitura fácil. Ela não foi desenvolvida para ser digerida com facilidade. Esta minha edição traz um vocabulário mais refinado, longe de coloquialismo e expressões corriqueiras, isso não atrapalha a compreensão textual, mas pode dificultar a leitura para um público mais juvenil. O livro é repleto de referências a Shakespeare e por vezes adota um tom mais poético. Me chamou atenção o fato da obra trazer no rodapé a transcrição original de cada trecho de Shakespeare utilizado como citação. Achei bem legal mesmo.

Foi uma tarefa bem hercúlea terminar este livro. Não que eu tenha achado ruim, mas a narrativa exige uma dedicação e atenção que eu não tinha a oferecer no momento. No geral, eu gostei bastante. Não sei se compreendi todo o contexto, mas achei uma leitura fantástica.







Todos os moralistas estão de acordo em que o remorso crônico é um sentimento dos mais indesejáveis. Se uma pessoa procedeu mal, arrependa-se, faça as reparações que puder e trate de comportar-se melhor na próxima vez. Não deve, de modo nenhum, pôr-se a remoer suas más ações. Espojar-se na lama não é a melhor maneira de ficar limpo. (Prefácio)

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Vida corrida, leitura parada

Eu confesso que ouço muito falar em ressaca literária e me orgulhava de nunca ter tido uma (pelo menos não que eu me lembre), mas ultimamente tenho sofrido para dar continuidade às minhas leituras. Agora terminar um livro não é apenas um sinônimo de satisfação, mas de sofrimento também, porque vou ficando desanimada cada vez que não 'avanço' em uma leitura.

Me pergunto a razão de tal fenômeno em minha vida. Será que é a famosa ressaca literária ou só uma boa dose de falta de tempo mesmo? Talvez seja os dois. Ou talvez seja mais influência da segunda hipótese. Hoje em dia até as crianças possuem uma rotina puxada, comigo não é diferente. A vida tem se tornado mais cansativa, a rotina exige mais dedicação e eu não consegui me adaptar a tudo isso. Dentre todas as áreas da minha vida: esposa, profissional, dona de casa, leitora... Essa última é a mais sacrificada. Não consigo mais ler durante a semana, por causa das atribulações do trabalho e da vida doméstica, nem nos fins de semana, porque recrio minha própria versão da Escrava Isaura. "Lê lê, lê lê, lê lê lê lê lê lê. Vida de dona de casa é difícil, é difícil como o que"...

Enfim, passo tanto tempo lendo um mesmo livro, que acabo enjoando. Quero dedicar algumas horas do meu dia para a leitura e acabo lendo míseras 10 páginas, quando leio muito. Mesmo a obra sendo boa, não sinto vontade de continuar, porque ela se arrasta, arrasta e se arrasta, parecendo uma história sem fim. Agora me diz: Existe como ficar animada assim? Eu não consigo. Nem o blog consigo manter atualizado. Falta a inspiração (e disposição) para vir aqui escrever. Estou vivendo o ônus de alguns escritores famosos: Estou tendo bloqueios criativos (sem a parte da fama, do dinheiro e do reconhecimento, claro!).

Se você sobreviveu ao drama descrito acima e chegou até aqui, o que quero dizer é que sempre existirão motivos para abandonarmos as coisas prazerosas de nossas vidas, sejam elas escrever, ler, assistir filmes, passear, entre outras coisas, mas nós temos que nos agarrar a qualquer possibilidade de pôr um sorriso no rosto, de tirar o peso dos ombros, de simplesmente relaxar. Assim como eu, pode ser que você que está me lendo também esteja vivendo este momento de ressaca. Não estamos sós. O dia tem o mesmo número de horas para todo mundo, então acredite, não existe alguém que esteja com tempo sobrando. Isso sim é igualdade! Se cansou de alguma coisa que gosta de fazer, dê um tempo, vá buscar outro divertimento e depois volte, persevere. É assim com a vida, é assim com os livros. Eu continuarei aqui, 'correndo' para tirar minhas leituras do 'sedentarismo'.

Um beijo! 

domingo, 17 de agosto de 2014

Sorteio: O Circo Mecânico Tresaulti e Memória de minhas putas tristes + Eu me chamo Antônio


Ê, o Ainda Leio vai ter seu primeiro sorteio. \o/

Mas antes que você queira participar, acho que é importante ficar sabendo que estes livros foram lidos. Por motivos de espaço, estou me 'desapegando' de alguns livros que não tenho interesse em reler, então pensei que eu poderia sortear e fazer um leitor feliz (desde que ele não se importe de não ganhar livro novo). ;)

Os livros estão bem conservados e foram pouco manuseados (fui a única dona). Saliento, apenas, que o livro do Gabriel García Márquez tem meu nome na primeira folha.

Serão dois sorteados. O primeiro ganhará O Circo Mecânico Tresualti e o segundo ganhador será contemplado com Memória de minhas putas tristes e Eu me chamo Antônio.



Para participar é muito simples, você só precisa seguir este regulamento:
- Curtir a página do Ainda Leio no facebook.
- Compartilhar este sorteio nas redes sociais.

Para participar clique aqui!

A lista do nunca (Koethi Zan)

Título: A lista do nunca
Autora: Koethi Zan
Título original: The never list
Tradução: Elvira Serapicos
Editora: Companhia das Letras
Selo: Paralela
Ano: 2013
Páginas: 274





Este livro foi muitíssimo comentado no fim do último ano e início deste. Acho que sou uma das últimas pessoas a falar dele, mas mesmo assim irei comentar, porque pode ser que exista aí do outro lado do monitor alguém que, como eu, gosta de deixar a 'badalação' diminuir.

Faz algum tempo que eu terminei de ler este livro, então não posso garantir que serei fiel a sinopse, por isso não vou me prolongar demais no texto.

Eu tinha visto alguns vídeos a respeito deste livro e as opiniões eram bastante divergentes, gente que amava, outras que não gostaram muito da obra por causa do final... Enfim, só lendo mesmo para tirar as conclusões. Este livro foi bem surpreendente. Esperava encontrar uma boa narrativa, uma história bem marcante e foi isso mesmo, minhas expectativas foram correspondidas.

O livro conta a história de Sarah e Jennifer, duas amigas que aos 10 ou 12 anos, não me recordo bem, sofrem um acidente de carro e, traumatizadas, começam a escrever um rol de coisas que não devem ser feitas, afim de evitar outros acidentes, sequestros, enfim, qualquer catástrofe. Este rol é chamado de "a lista do nunca" (de onde deriva o título da obra). Tudo estava correndo muito bem, as meninas viveram a adolescência de acordo com as regras por elas impostas, até que um descuido durante uma festa da faculdade originou o evento chave desta narrativa.

As meninas são sequestradas e passam 3 anos trancadas em um porão, vivendo todo tipo de tortura, física e psicológica. O homem que as mantém em cativeiro é um sádico, às vezes a leitura ficava bem densa pelas torturas que as personagens sofriam. Era um horror. É bastante cativante no livro essa empatia que a autora consegue criar com o leitor, justamente pelo fato da história ser bem real, porque encontramos casos correspondentes nas manchetes dos mais diversos jornais, infelizmente.

A história é narrada pela Sarah aos 28, 30 anos (13 anos após a ida ao cativeiro) e vemos claramente os impactos na sua vida, os traumas e as consequências devastadoras dessa experiência. Tudo nesse livro é muito bom, muito crível. Eu li bem rápido. Apesar de ter uns momentos fortes, é livro para pegar e não largar mais. A leitura fluiu incrivelmente bem, num ritmo agradável e gostoso. É um suspense envolvente e surpreendente. Em momento algum consegui decifrar aspectos da trama antes que a autora permitisse, fiquei satisfeita com isso, porque é sempre agradável ler uma história que foge do lugar comum. Se é um suspense, mistério é essencial e o livro cumpriu bem esse papel.

Concordo com as pessoas que se queixaram do final, também fiquei meio "hã?"! Gostei do livro inteiro, mas não gostei tanto assim do final. Achei que houve uma quebra no ritmo da narrativa, a história fluía bem, com o nível certo de desenvolvimento e, de repente, o final ficou mais lento, muita conversa e uma redução considerável na ação. Também achei um pouquinho forçado. Senti falta de mais detalhamento em alguns pontos. Mesmo assim não deixa de ser inesperado. No geral, gostei muito.



 Achei essa capa meio sem graça, porque gosto de capas mais artísticas, no entanto, o responsável pela capa conseguiu fazer um trabalho digno, fiel a história, retratando bem o enredo. Essa cor vermelha já coloca o leitor em clima de tensão, ansiedade. O arremate é dado pela imagem do buraco da fechadura, que passa uma ideia de pessoas sendo presas e observadas. Outro ponto interessante é que dentro da fechadura vemos a lista do nunca. É uma arte legal.



É claro. Cobri a boca com a mão. Senti vontade de consolá-la, mas não havia conseguido desenvolver essa habilidade em toda a minha solidão. Percebi que havia permitido que minha incapacidade de recuperação do meu passado encolhesse o meu mundo de tal forma que só restara espaço para mim. Agora me ocorria, realmente pela primeira vez, que as pessoas ferradas podiam se transformar em uma espécie de narcisistas. A tal ponto que eu, por exemplo, mal conseguiria reconhecer que os outros poderiam precisar de mim. (Zan, p. 151).



Minha vida tem estado bem corrida, por isso estou revendo a dinâmica de postagens. Talvez eu passe a comentar 2 ou 3 livros de uma vez, mas ainda estou analisando.

Em setembro estudo também a possibilidade de criar uma coluna mensal ou quinzenal (ainda analiso a periodicidade) para escrever sobre coisas aleatórias (filmes, séries, músicas, assuntos mais pessoais, etc). Veremos no que dá!

Isso é tudo por hoje!
Abraços!


domingo, 3 de agosto de 2014

Balanço do mês: Julho

Olá!

Vamos a mais um balanço do mês?

Leituras de Maio:
Conversando com Mrs. Dalloway (Celia Blue Johnson)
O Circo Mecânico Tresaulti (Genevieve Valentine)

O que tenho de novo:
Absolutamente nada!

O que estou lendo:
Capote: Uma biografia (Gerald Clarke)

Possíveis leituras para junho:
Pretendo terminar a biografia do Capote. Só tenho isso planejado.

O que andei vendo:
(Os itens marcados com * são revisão. Trocando em miúdos, já foram vistos antes).

Filmes:
Não vi filmes este mês

Séries:
Game of Thrones (1ª e 2ª temporada)

Apareceu no Ainda Leio:
Julho começou com o Balanço do mês de Junho. Apareceu por aqui, também, meus comentários sobre duas leituras ótimas: O grande Gatsby e Bonequinha de Luxo. Preparei dois posts especiais, no 'Quem lê muitos livros faz realmente uma boa leitura?', dissertei sobre a minha cobrança por não ler tanto quanto outras pessoas e no Indicação de canais literários recomendei alguns dos canais que acompanho (todos sobre livros).

Foi isso!
Próximo mês tem mais.
Beijos e até lá. ;)