quarta-feira, 16 de abril de 2014

Bonsai + A vida privada das árvores (Alejandro Zambra)

Título: Bonsai
Autor: Alejandro Zambra
Título original: Bonsai
Tradução: Josely Vianna Baptista
Editora: Cosac Naify
Ano: 2012
Páginas: 96




Um bonsai é uma réplica artística de uma árvore em miniatura. [...] Um bonsai nunca é chamado de árvore bonsai. A palavra já inclui o elemento vivo. Uma vez fora do vaso, a árvore deixa de ser um bonsai.
Bonsai tem um nome bem adequado. Ele é um livro em miniatura, podemos dizer assim. Em miniatura porque seu design é elaborado para tal propósito estético. Temos um livro em tamanho normal, mas na capa vem uma linha pontilhada, que você pode recortar se quiser, fazendo um livro menor (aproximadamente do tamanho de um livro de bolso). Toda a impressão é feita para ficar dentro do limite do recorte. Esteticamente é um livro muito bonito. Até então, nunca tinha visto um trabalho gráfico tão original e peculiar. Mais uma vez a Cosac Naify fez um excelente trabalho editorial. Cosac Naify é amor! ♥

É em miniatura também porque é uma história curtinha, rápida de ler. É quase um conto mais prolongado (ou um romance excessivamente curto, como preferir).

A obra conta a história de Julio e Emilia, uma história de amor apresentada em seu início e fim. Não é segredo que ela acaba, nem que Emilia morre, porque esses fatos são apresentados na orelha do livro. Mas por que jogar essa revelação logo de cara? Por que não deixar o leitor se deliciar com a descoberta? Porque aqui o importante não é o evento em si, mas a narrativa, os fatos que levam ao desfecho. Não é a chegada, mas o percurso. Segue o mesmo princípio de "A menina que roubava livros", por exemplo. Os spoilers são o que menos importa. O significativo é o enredo, as palavras.

Essa história de amor é construída cercada por livros e por causa de um livro ela acaba. Após Julio e Emilia lerem "Tantalía" de Macedonio Fernández, um desconforto se instala e o romance dos dois chega ao fim.

Gosto de livros que falam de livros. Em Bonsai temos muitos passeios pela literatura  universal, pela latino-americana, especialmente a chilena. Diversos autores consagrados são citados. Há referência a Marcel Proust, Jack Kerouac, Heinrich Boll, Vladimir Nabokov, Truman Capote, entre outros. Achei sensacional essa breve aula de literatura.

Apesar de ser uma história de amor, o foco não é totalmente em Julio e Emilia. A história foca mais nos relacionamentos desses dois, no efeito do romance deles nas amizades, nos relacionamentos seguintes. Gostei bastante do desenvolvimento da relação entre Emilia e sua amiga Anita. Todos os personagens foram bem construídos e são muito relevantes para a história.

É uma história para adultos. Não tem apelo erótico, mas tem uma áurea madura muito marcante. O que me chamou atenção foi o linguajar, um tanto "chulo" em alguns momentos. É um livro um pouco denso, com escrita crua, mas sem perder um toque leve e carismático.

Foi uma leitura bem agradável, boa, interessante. De um modo geral eu gostei bastante, mas não me cativou a ponto de considerar uma das melhores leituras que fiz. Para um primeiro contato com o autor foi positivo, mas senti falta de um envolvimento maior.

Em todo caso, na história de Emilia e Julio há mais omissões que mentiras, e menos omissões que verdades, dessas verdades que são chamadas de absolutas e que costumam ser incômodas. (p. 21).





Título: A vida privada das árvores
Autor: Alejandro Zambra
Título original: La vida privada de los árboles
Tradução: Josely Vianna Baptista
Editora: Cosac Naify
Ano: 2013
Páginas: 97




A vida privada das árvores é o segundo romance do Alejandro Zambra e também minha segunda experiência com o autor.

Neste livro conhecemos Julián, um professor de literatura - e escritor nas horas vagas - de 30 anos, casado com Verónica. Juntos eles criam Daniela, filha do primeiro casamento de Verónica com Fernando, um engenheiro que nunca escreverá um livro. A história do livro é toda baseada nos acontecimentos de um dia em que Verónica não retorna para casa. E por causa dessa ausência é que temos um enredo. Não ficamos sabendo os motivos para a ausência da personagem, mas enquanto ela não chega, temos uma história que se desenrola pelas  lembranças de um corpo que deixa de ocupar o espaço familiar.

Pelo pouco que conheci do Zambra, o chamo assim porque já me sinto íntima, ele não é autor de finais felizes. Ele escreve livros para desassossegar, incomodar. Ler suas palavras é ter a realidade gritando, colocando um gosto amargo em cada drama da vida de seus personagens. Observei que tanto Bonsai quanto A vida privada das árvores falam de desencontros, mas de amor acima de tudo.

Percebe-se os gostos do autor intrincados aos de seus personagens. Mergulhamos em aulas de literatura e jardinagem, conhecemos a respeito do cultivo de bonsais (o autor é um estudioso dessa arte). É gostoso não saber onde termina Zambra e começa Julián, isso confere um certo mistério que torna a obra ainda  mais magnética.

Um fato que me chamou muita atenção foi a escolha do título. Por mais que pareçam aleatórios, eles possuem uma ligação estreita com a história, sendo mencionados no decorrer da escrita. A vida privada das árvores é uma série de histórias, criadas por Julián para fazer Daniela dormir, cujos protagonistas são um álamo e um baobá que conversam durante a noite sobre as vantagens de ser uma árvore.

Mas nem tudo são flores na vida das árvores. Achei alguns trechos muito repetitivos, isso me deixou um pouco cansada, apesar da leitura curta. Sei que as repetições foram para dar ênfase a alguns pontos da narrativa, mais ainda acho que não precisava de tanto. Também achei Julián muito acomodado com a situação conflito e muitas vezes o óbvio lhe escapava aos olhos.

Me incomodou bastante o fato do final ser inconclusivo. Não fica nada amarrado, permitindo que o leitor crie suas próprias conclusões.  Podem me chamar de careta, mas sou leitora à moda antiga, gosto de bons finais, de histórias bem encerradas.

A narrativa não é linear, ela tem saltos no tempo, vai e volta entre o passado, presente e futuro. Isso deixou tudo mais interessante, dinâmico.

Volto a destacar minha estranheza com o vocabulário. Nunca havia lido nada tão cru, direto ou chocante, mas passada essa dificuldade inicial, tudo se torna belo. É livro para se desfrutar na plenitude da maturidade.

A edição é fantástica. Linda mesmo! A capa tem uma textura que dá a sensação de que estamos tocando o tronco de uma árvore. Uma fofura  só! Durante a leitura encontrei dois erros de revisão, nada que prejudicasse o entendimento, mas não passou batido.

Ainda estou em dúvida a respeito de qual das obras gostei mais. Achei Bonsai mais bem escrito, mas acho que ainda prefiro AVPA.

Além do mais, no Chile não é tão grave dar aulas de poesia italiana sem saber italiano, porque Santiago está cheia de professores de inglês que não sabem inglês, de dentistas que mal sabem extrair um dente - e de personal trainers com sobrepeso, e de professores de ioga que não conseguiriam dar aulas sem uma generosa dose prévia de ansiolíticos. (p.22).
É que a gente sempre quer ser outra coisa, Daniela, responde ele - ia dizer Danielita ou Dani, mas disse Daniela. A gente nunca está contente com o que é. (p.90).





 Alejandro Zambra nasceu em Santiago, no Chile, em 1975. Bonsai foi seu primeiro romance. No Chile, o livro ganhou o Prêmio da Crítica e o Prêmio do Conselho Nacional do Livro como melhor romance de 2006. Além de Bonsai, Zambra escreveu Bahía Inútil (1998), Mudanza (2003), No Leer (2010), além dos romances La vida privada de los árboles (2007) e Formas de volver a casa (2011), este último lançado em 2014 pela Cosac Naify.

4 comentários:

  1. Fiquei encantada com o projeto gráfico, quero ver de perto!

    http://naomemandeflores.com

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    1. Eu achei o projeto gráfico lindo, mas sou suspeita... Rs. Se você se interessa por design, acho que vale a pena ver de perto.
      Obrigada pela visita, Camila!
      Beijos

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  2. Gosto muito de seus post...muito inteligente e original. Analise bem estruturada e motivadora.
    Parabéns....
    beijos

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    1. Ô Dona Marluce, acho que vou chamar você para fazer resenha aqui comigo... Está escrevendo muito bonito. Toda trabalhada na chiqueza. :)
      Obrigada pelo comentário!
      Beijinhos.

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